terça-feira

quinta-feira

Lobo Antunes zangado com Deus


O prometido é devido. Tinha ficado de colocar aqui a crónica de António Lobo Antunes, publicada na revista Visão. Deliciem-se.

Deus, estou zangado contigo. Suponho que já Te habituaste às minhas zangas como Te habituaste às minhas dúvidas, aos meus afastamentos, aos meus regressos a fingir que não venho, aos momentos de harmonia que de vez em quando existem entre nós, à minha incompreensão de tanta coisa que fazes ou não fazes, aos meus ralhetes, aos meus amuos, ao que considero as Tuas injustiças, a Tua crueldade e se calhar não é injustiça, se calhar não é crueldade, sou parvo, não ligues, não consigo entender as Tuas profundezas e os Teus caminhos, o significado dos Teus gestos. Só que ultimamente tens exagerado: o ano ainda mal começou e já desataste a despovoar o mundo à minha roda, eu que nunca fui próximo de muita gente, bicho do mato a fechar-me, a fechar-me. Começaste pelo Zé Manel Rodrigues da Silva, não sei se Te lembras dele, era jornalista, morava na Rua Azedo Gneco, usava óculos, acho que Te lembras porque se vestia de uma maneira única, fumava cachimbo, tinha brinquedos em casa, bebia chá, os olhos desapareciam a sorrir, era muito generoso e muito bom, usava cabelo comprido com risca ao meio, barba, um anel de prata no mindinho, houve uma altura em que fumou cigarros de mortalha, se procurares achas fotografias da gente os dois no Teu arquivo. Tiraste o Zé Manel sem razão, não fazia mal a ninguém, fez bem a muitas pessoas a começar por mim que estou aqui a jeito

(estou sempre aqui a jeito)

segurava os óculos com um fio. O Zé Manel, desculpa lá, não perdoo, quer dizer não digo que daqui a uns tempos não perdoe mas para já não perdoo. E a seguir, pumba, a Tereza. Dessa recordas-Te, não mintas, foi a semana passada, perdão, o funeral foi domingo passado, fresco ainda, não franzas a testa a pensar, não Te escapes, é impossível que não Te recordes, a mulher do Rui, a mãe do Henrique e da Sara, pertencíamos à mesma editora, a Tereza tomava conta de mim, foste tão duro para ela nos últimos tempos e a Tereza sempre corajosa, digna, sem uma queixa. E depois do coiso no cérebro de que ela se estava a levantar com uma força de vontade que nunca vi amandas-lhe uma gripe, uma pneumonia, cuidados intensivos, os orgãos a desistirem um a um, a inabalável esperança do Rui e o seu imenso amor, nós ambos ao pé da Tereza, toda ligada aos tubos, a inabalável esperança do Rui e a minha nula esperança, durou mais ou menos durante quinze dias

(mais de quinze dias)

o Rui acreditava, eu não acreditava e infelizmente a razão do meu lado, sempre me maçou ter razão, bendigo algumas das minhas asneiras, das minhas imprudências, das minhas tolices. Só ando certo ao escrever, no resto acho-me sinceramente

(e não consegues desmentir)

um palerma, no que diz respeito à vida prática eis o campeão dos azelhas, um desastrado Quixote interior. Bom, mas isso não interessa, interessa a Tereza, Tereza com z, não com s, não me desvies a esferográfica. Na missa de corpo presente comoveram-me as lágrimas do padre, mais junto de Ti e mais conhecedor das Tuas razões do que eu. Estaria zangado também, o padre? Ou aceitava? Senhor padre, entre nós que eu não conto a ninguém, estava zangado ou aceitava? No dia em que a Tereza morreu fui a casa deles, ainda o Rui não tinha dito aos filhos que lhes levaras a mãe

- Venha ver o sítio onde a Tereza lia os seus livros

um apartamento muito bonito, cheio de luz, cheio de vida, feito à justinha para as pessoas serem felizes, os livros, os quadros, os móveis. E depois a elegância de sentimentos do Rui, a elegância na dor, a mais rara de todas. A inveja de uma família assim, as irmãs, os pais, o

(não é piegas nem exagerado)

amor deles, a infinita delicadeza, a discrição de uma imensa ternura. E na volta, Deus, vens lá de cima fazer isto? Com que direito? Porquê? Explica-Te, mereço, no mínimo, uma justificação. Há coisas que doem, no caso de andares distraído: o anel da Tereza no dedo do Rui, o beijo que deu no anel, os pobres beijos que lhe dei a ele e não serviam de nada. Rui, eu gosto muito de si. Deus, neste momento não gosto nada de Ti. A Tereza queria tanto viver. Palavras suas

- Quero muito viver

ela sentada à minha frente, do outro lado da mesa onde escrevo, neste lugar cheio de lixo e tão sujo onde eu, obsessivamente meticuloso, me sinto, pasme-se, bem.

- Quero muito viver

dizia a Tereza

- Quero muito viver

depois de falarmos de trabalho e disto e daquilo, o que fizemos, o que íamos fazer. Que mulher tão forte a Tereza, Rui, que Mulher, apenas. O Rui

- Lembra-se da nossa viagem à América?

há pouco tempo, contentes. Contentes em Nova Iorque, Rui, em Washington. Em Boston roubei à descarada uma primeira edição do último Conrad, que o autor deixou incompleto. À Tereza e ao Rui quem os completa a partir de domingo, Deus?
E agora um aviso solene, uma ameaça, uma ordem: livra-Te de tornares a meter-Te com a família do Rui. Ouviste bem? Livra-Te
de tornares a meter-Te com a família
do Rui porque, se o fizeres, vais ter-me à perna a Eternidade inteira e não sou um osso fácil de roer.

segunda-feira

quem não luta, perde sempre!


Cordão Humano em defesa do Choupal - 15 de Fevereiro de 2009

A Ju tinha combinado com os colegas da Escola participar no Cordão Humano em defesa do Choupal, no domingo de manhã. A mãe também queria ir e eu tinha optado por ficar em casa de manhã, a trabalhar, porque tinha de sair à tarde.

No sábado à noite, chegámos tarde a casa e a Ju ensonada disse:
- se calhar não vou ao Cordão Humano, estou a precisar de dormir. Aquela hora, só dissemos:
- não é o sono que nos vai impedir de lutar por uma causa!


Domingo de manhã, o sono imperava pela casa. Acordei cedo e fui verificar os mail's. Um em particular chamou-me a atenção. Um Amigo relembrava-nos para a iniciativa no Choupal e que além de ir toda a família contavam com a nossa presença. Foi o click que faltava! Falei com a mãe, que alinhou logo e acordámos a Ju. Um pouco estremunhada, lá aceitou em ir connosco.

Estava um dia muito lindo e a iniciativa foi um sucesso. Divertimo-nos muito e ficámos com a aquela sensação de dever cumprido. Dever cívico.
Pode não dar resultado, mas como dizia alguém: "se lutarmos, podemos não ganhar, mas se não lutarmos, perdemos sempre!".


Fica aqui uma foto bem ilustrativa da iniciativa, retirada do site da plataforma do Choupal.

foto tirada de um parapente que não faltou à chamada.

O que se pretende fazer é uma via que vai cortar uma "fatia" ao Choupal. Quando retiramos fatias ao bolo, ele acaba por desaparecer.

foto retirada daqui (assinalando a nova via que pretendem construir)


terça-feira

não me lixem...

Coimbra, 10 de Fevereiro de 2009

Ao fim de 5 dias sem recolha do lixo na minha rua, resolvi ligar para a entidades (in)competentes a fim de informar/reclamar de tal facto.
Sim! 5 dias.


Liguei por volta das 14.00 horas para a ERSUC - Resíduos Sólidos do Centro, SA. A senhora que me atendeu informou-me que a minha rua não era abrangida pela recolha de resíduos por parte desta empresa. Sugeriu-me que ligasse para a Câmara Municipal de Coimbra. Assim o fiz.
Atendeu-me uma voz feminina:

- Boa tarde!
- Boa tarde! Posso falar com o responsável pelo Departamento de Higiene?
- Ainda não chegou.
- A que horas chega?
- Não sei.
- Não sabe? Então qual é o horário do responsável?
- Nem eu sei.
- Então quem sabe?
- ...
Virou-se para o lado e tapou mal o fone e disse:
- é um senhor a reclamar que há 5 dias que não recolhem o lixo na rua onde mora.
E a voz de um homem disse:
- aponte os dados do senhor e diga-lhe que a responsável telefona-lhe depois.
A telefonista ficou com o n.º do meu telemóvel para me contactarem depois. Acedi. Perguntei com quem estava a falar e também o nome da pessoa responsável. Respondeu-me que se chamava TrimTrim (nome alterado por mim), que era telefonista e a responsável era a D. BlaBla (nome alterado por mim).
Mais tarde, ligou uma senhora e falou em tom de despachar:
- então diga lá!
Perguntei se era a responsável do serviço de recolha do lixo e informou-me que não era, mas que preenchia o documento respectivo com minha informação e que entregava no serviço de higiene.
Disse-lhe o que se passava e rapidamente disse:
- já apontei, obrigado!
Reparando na sua pressa e antes que desligasse, perguntei se estava a falar com a D. BlaBla. Hesitou e respondeu:
- Sim! Ah, diga-me também o seu nome e contacto.

Quando cheguei à minha rua, por volta das 19.00 horas estava tudo limpinho.

Não sei se tive influência na acção, mas que resultou, resultou.



façamos de conta!


Sempre que posso vejo o noticiário das 21 horas na SIC. Alto! Só se for apresentado pelo Jornalista Mário Crespo. Disse Jornalista, com "J" grande. Jornaleiros há muitos.

Pensar que Mário Crespo foi "posto na prateleira" há uns anos, por uma direcção da RTP! Quem tem valor, dá a volta por cima. Façamos de conta que isso não aconteceu.

Deixo aqui um texto dele que dispensa comentários. Ou não?
Preparem-se! Aí vai...

"Façamos de conta que nada aconteceu no Freeport. Que não houve invulgaridades no processo de licenciamento e que despachos ministeriais a três dias do fim de um governo são coisa normal. Que não houve tios e primos a falar para sobrinhas e sobrinhos e a referir montantes de milhões (contos, libras, euros?). Façamos de conta que a Universidade que licenciou José Sócrates não está fechada no meio de um caso de polícia com arguidos e tudo.

Façamos de conta que José Sócrates sabe mesmo falar Inglês. Façamos de conta que é de aceitar a tese do professor Freitas do Amaral de que, pelo que sabe, no Freeport está tudo bem e é em termos quid juris irrepreensível. Façamos de conta que aceitamos o mestrado em Gestão com que na mesma entrevista Freitas do Amaral distinguiu o primeiro-ministro e façamos de conta que não é absurdo colocá-lo numa das "melhores posições no Mundo" para enfrentar a crise devido aos prodígios académicos que Freitas do Amaral lhe reconheceu. Façamos de conta que, como o afirma o professor Correia de Campos, tudo isto não passa de uma invenção dos média. Façamos de conta que o "Magalhães" é a sério e que nunca houve alunos/figurantes contratados para encenar acções de propaganda do Governo sobre a educação. Façamos de conta que a OCDE se pronunciou sobre a educação em Portugal considerando-a do melhor que há no Mundo. Façamos de conta que Jorge Coelho nunca disse que "quem se mete com o PS leva". Façamos de conta que Augusto Santos Silva nunca disse que do que gostava mesmo era de "malhar na Direita" (acho que Klaus Barbie disse o mesmo da Esquerda). Façamos de conta que o director do Sol não declarou que teve pressões e ameaças de represálias económicas se publicasse reportagens sobre o Freeport. Façamos de conta que o ministro da Presidência Pedro Silva Pereira não me telefonou a tentar saber por "onde é que eu ia começar" a entrevista que lhe fiz sobre o Freeport e não me voltou a telefonar pouco antes da entrevista a dizer que queria ser tratado por ministro e sem confianças de natureza pessoal. Façamos de conta que Edmundo Pedro não está preocupado com a "falta de liberdade". E Manuel Alegre também. Façamos de conta que não é infinitamente ridículo e perverso comparar o Caso Freeport ao Caso Dreyfus. Façamos de conta que não aconteceu nada com o professor Charrua e que não houve indagações da Polícia antes de manifestações legais de professores. Façamos de conta que é normal a sequência de entrevistas do Ministério Público e são normais e de boa prática democrática as declarações do procurador-geral da República. Façamos de conta que não há SIS. Façamos de conta que o presidente da República não chamou o PGR sobre o Freeport e quando disse que isto era assunto de Estado não queria dizer nada disso. Façamos de conta que esta democracia está a funcionar e votemos. Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de acabar-se como todas as coisas. Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos Santos, Kabila ou o que quer que seja. Votemos por unanimidade porque de facto não interessa. A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos.

Mário Crespo - Jornal de Notícias

...bem chateado com Deus!


Leio regularmente as crónicas de António Lobo Antunes, na revista Visão e desta vez o escritor chateou-se mesmo com Deus e até O ameaçou. Queixa-se o escritor que Ele lhe levou, já este ano, duas pessoas muito queridas, que, na sua opinião, só faziam o bem.
Vale bem a pena ler e reler. Eu próprio revi-me nas suas palavras. Todos nós já ficámos privados fisicamente de pessoas queridas.

Deixo-vos com uma citação do escritor acerca da morte:

"Não fomos feitos para a morte, a não ser para a morte voluntária. A involuntária sempre me pareceu uma tremenda injustiça, para não falar em crueldade."

fonte: Diário de Notícias, 09.11.2004



Logo que a crónica esteja disponível coloco-a aqui.

segunda-feira

sê solidário! não doi nada e ainda cura.
























gosto desta foto! Tirei-a daqui. Aproveitem também para ver este blogue solidário.

domingo

falta de inspiração ou ...espionagem jornalística?

vejam as capas dos jornais desportivos portugueses no domingo, dia 1 de Fevereiro.











é a Alegria do Povo! Deixem jogar o Mantorras...

terça-feira

a morte é um papão!


a morte é a única certeza que sabemos em vida, mas em muitos casos custa imenso a "digerir".

Soube da morte do músico João Aguardela (fundador dos Sitiados, do projecto Naifa, etc) pela comunicação social. Um cancro no estômago detectado há um ano, venceu a batalha contra o João.

a notícia aqui

pensando bem...

"A virtude é como o segredo: oculto, conserva-se; manifesto, perde-se."
(S, IV, p.78. P. António Vieira)